Assunto atual merece ser lembrado, não é mesmo?
Portanto, posto abaixo material retirado do site da Revista Nova Escola.
É um pouco extenso, mas você pode selecionar as informações mais importantes pelas perguntas. Para quem trabalha em escola secular é um bom material para subsidiar reunião de pais.
21 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE BULLYING
1.
O que é bullying?
Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões
intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por
um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem
origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão.
Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça,
tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. "É
uma das formas de violência que mais cresce no mundo", afirma
Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying: Como
Prevenir a Violência nas Escolas e Educar para a Paz (224 págs.,
Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868 ). Segundo a especialista, o bullying
pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas,
universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho. O que, à
primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode
afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Além de um possível
isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes
que passam por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas
podesm apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de
trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos
extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de
tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.
2.
O que não é bullying?
Discussões ou brigas pontuais não são bullying. Conflitos entre
professor e aluno ou aluno e gestor também não são considerados
bullying. Para que seja bullying, é necessário que a agressão
ocorra entre pares (colegas de classe ou de trabalho, por exemplo).
Todo bullying é uma agressão, mas nem toda a agressão é
classificada como bullying. Para Telma Vinha, doutora em Psicologia
Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), para ser dada como bullying, a
agressão física ou moral deve apresentar quatro características: a
intenção do autor em ferir o alvo, a repetição da agressão, a
presença de um público espectador e a concordância do alvo com
relação à ofensa. ''Quando o alvo supera o motivo da agressão,
ele reage ou ignora, desmotivando a ação do autor'', explica a
especialista.
3.
O bullying é um fenômeno recente?
Não. O bullying sempre existiu. No entanto, o primeiro a relacionar
a palavra a um fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da
Noruega, no fim da década de 1970. Ao estudar as tendências
suicidas entre adolescentes, o pesquisador descobriu que a maioria
desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, o
bullying era um mal a combater. A popularidade do fenômeno cresceu
com a influência dos meios eletrônicos, como a internet e as
reportagens na televisão, pois os apelidos pejorativos e as
brincadeiras ofensivas foram tomando proporções maiores. "O
fato de ter consequências trágicas - como mortes e suicídios - e a
impunidade proporcionaram a necessidade de se discutir de forma mais
séria o tema", aponta Guilherme Schelb, procurador da República
e autor do livro Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil (164
págs., Thesaurus Editora tel. (61) 3344-3738).
4.
O que leva o autor do bullying a praticá-lo?
Querer ser mais popular, sentir-se poderoso e obter uma boa imagem de
si mesmo. Isso tudo leva o autor do bullying a atingir o colega com
repetidas humilhações ou depreciações. É uma pessoa que não
aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento
do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário,
sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo ou
antecipando quão dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima.
''O autor não é assim apenas na escola. Normalmente ele tem uma
relação familiar na qual tudo se resolve pela violência verbal ou
física e ele reproduz isso no ambiente escolar'', explica o médico
pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência
(Abrapia). Sozinha, a escola não consegue resolver o problema, mas é
normalmente nesse ambiente que se demonstram os primeiros sinais de
um praticante de bullying. "A tendência é que ele seja assim
por toda a vida, a menos que seja tratado", diz.
5.
O espectador também participa do bullying?
Sim. O espectador é um personagem fundamental no bullying. É comum
pensar que há apenas dois envolvidos no conflito: o autor e o alvo.
Mas os especialistas alertam para um terceiro personagem responsável
pela continuidade do conflito. O espectador típico é uma testemunha
dos fatos, pois não sai em defesa da vítima nem se junta aos
autores. Quando recebe uma mensagem, não repassa. Essa atitude
passiva pode ocorrer por medo de também ser alvo de ataques ou por
falta de iniciativa para tomar partido. Os que atuam como plateia
ativa ou como torcida, reforçando a agressão, rindo ou dizendo
palavras de incentivo também são considerados espectadores. Eles
retransmitem imagens ou fofocas. Geralmente, estão acostumados com a
prática, encarando-a como natural dentro do ambiente escolar. ''O
espectador se fecha aos relacionamentos, se exclui porque ele acha
que pode sofrer também no futuro. Se for pela internet, por exemplo,
ele ‘apenas’ repassa a informação. Mas isso o torna um
coautor'', explica a pesquisadora Cléo Fante, educadora e autora do
livro Fenômeno Bullying: Como Prevenir a Violência nas Escolas e
Educar para a Paz (224 págs., Ed. Verus, tel. (19) 4009-6868).
6.
Como identificar o alvo do bullying?
O alvo costuma ser uma criança com baixa autoestima e retraída
tanto na escola quanto no lar. ''Por essas características, é
difícil esse jovem conseguir reagir'', afirma o pediatra Lauro
Monteiro Filho. Aí é que entra a questão da repetição no
bullying, pois se o aluno procura ajuda, a tendência é que a
provocação cesse. Além dos traços psicológicos, os alvos desse
tipo de violência costumam apresentar particularidades físicas. As
agressões podem ainda abordar aspectos culturais, étnicos e
religiosos. "Também pode ocorrer com um novato ou com uma
menina bonita, que acaba sendo perseguida pelas colegas",
exemplifica Guilherme Schelb, procurador da República e autor do
livro Violência e Criminalidade Infanto-Juvenil (164 págs.,
Thesaurus Editora tel. (61) 3344-3738).
7.
Quais são as consequências para o aluno que é alvo de bullying?
O aluno que sofre bullying, principalmente quando não pede ajuda,
enfrenta medo e vergonha de ir à escola. Pode querer abandonar os
estudos, não se achar bom para integrar o grupo e apresentar baixo
rendimento. Uma pesquisa da Associação Brasileira Multiprofissional
de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) revela que 41,6%
das vítimas nunca procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem
mesmo com os colegas. As vítimas chegam a concordar com a agressão,
de acordo com Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e
pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinhas (Unicamp). O discurso deles segue no seguinte sentido: "Se
sou gorda, por que vou dizer o contrário?" Aqueles que
conseguem reagir podem alternar momentos de ansiedade e
agressividade. Para mostrar que não são covardes ou quando percebem
que seus agressores ficaram impunes, os alvos podem escolher outras
pessoas mais indefesas e passam a provocá-las, tornando-se alvo e
agressor ao mesmo tempo.
8.
O que é pior: o bullying com agressão física ou o bullying com
agressão moral? Ambas
as agressões são graves e têm danos nocivos ao alvo do bullying.
Por ter consequências imediatas e facilmente visíveis, a violência
física muitas vezes é considerada mais grave do que um xingamento
ou uma fofoca. ''A dificuldade que a escola encontra é justamente
porque o professor também vê uma blusa rasgada ou um material
furtado como algo concreto. Não percebe que a uma exclusão, por
exemplo, é tão dolorida quanto ou até mais'', explica Telma Vinha,
doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os jovens
também podem repetir esse mesmo raciocínio e a escola deve
permanecer alerta aos comportamentos moralmente abusivos.
9.
Existe diferença entre o bullying praticado por meninos e por
meninas? De
modo geral, sim. As ações dos meninos são mais expansivas e
agressivas, portanto, mais fáceis de identificar. Eles chutam,
gritam, empurram, batem. Já no universo feminino o problema se
apresenta de forma mais velada. As manifestações entre elas podem
ser fofocas, boatos, olhares, sussurros, exclusão. "As garotas
raramente dizem por que fazem isso. Quem sofre não sabe o motivo e
se sente culpada", explica a pesquisadora norte-americana Rachel
Simmons, especialista em bullying feminino. Ela conta que as meninas
agem dessa maneira porque a expectativa da sociedade é de que sejam
boazinhas, dóceis e sempre passivas. Para demonstrar qualquer
sentimento contrário, elas utilizam meios mais discretos, mas não
menos prejudiciais. "É preciso reconhecer que as garotas também
sentem raiva. A agressividade é natural no ser humano, mas elas são
forçadas a encontrar outros meios - além dos físicos - para se
expressar", diz Rachel.
10.
O que fazer em sala de aula quando se identifica um caso de bullying?
Ao
surgir uma situação em sala, a intervenção deve ser imediata. "Se
algo ocorre e o professor se omite ou até mesmo dá uma risadinha
por causa de uma piada ou de um comentário, vai pelo caminho errado.
Ele deve ser o primeiro a mostrar respeito e dar o exemplo", diz
Aramis Lopes Neto, presidente do Departamento Científico de
Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de
Pediatria. O professor pode identificar os atores do bullying:
autores, espectadores e alvos. Claro que existem as brincadeiras
entre colegas no ambiente escolar. Mas é necessário distinguir o
limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. "Isso não é
tão difícil como parece. Basta que o professor se coloque no lugar
da vítima. O apelido é engraçado? Mas como eu me sentiria se fosse
chamado assim?", orienta o pediatra Lauro Monteiro Filho. Veja
os conselhos dos especialistas Cléo Fante e José Augusto Pedra,
autores do livro Bullying Escolar (132 págs., Ed. Artmed, tel; 0800
703 3444): Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às
diferenças por meio de conversas, campanhas de incentivo à paz e à
tolerância, trabalhos didáticos, como atividades de cooperação e
interpretação de diferentes papéis em um conflito; Desenvolver em
sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos;
Quando um estudante reclamar de algo ou denunciar o bullying,
procurar imediatamente a direção da escola.
11.
Qual o papel do professor em conflitos fora da sala de aula?
O professor é um exemplo fundamental de pessoa que não resolve
conflitos com a violência. Não adianta, porém, pensar que o
bullying só é problema dos educadores quando ocorre do portão para
dentro. É papel da escola construir uma comunidade na qual todas as
relações são respeitosas. ''Deve-se conscientizar os pais e os
alunos sobre os efeitos das agressões fora do ambiente escolar, como
na internet, por exemplo'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso
de pós-graduação ''As relações interpessoais na escola e a
construção da autonomia moral'', da Universidade de Franca
(Unifran). ''A intervenção da escola também precisa chegar ao
espectador, o agente que aplaude a ação do autor é fundamental
para a ocorrência da agressão'', complementa a especialista.
12.
O professor também é alvo de bullying?
Conceitualmente, não, pois, para ser considerada bullying, é
necessário que a violência ocorra entre pares, como colegas de
classe ou de trabalho. O professor pode, então, sofrer outros tipos
de agressão, como injúria ou difamação ou até física, por parte
de um ou mais alunos. Mesmo não sendo entendida como bullying,
trata-se de uma situação que exige a reflexão sobre o convívio
entre membros da comunidade escolar. Quando as agressões ocorrem, o
problema está na escola como um todo. Em uma reunião com todos os
educadores, pode-se descobrir se a violência está acontecendo com
outras pessoas da equipe para intervir e restabelecer as noções de
respeito. Se for uma questão pontual, com um professor apenas, é
necessário refletir sobre a relação entre o docente e o aluno ou a
classe. ''O jovem que faz esse tipo de coisa normalmente quer expor
uma relação com o professor que não está bem. Existem comunidades
na internet, por exemplo, que homenageiam os docentes. Então, se o
aluno se sente respeitado pelo professor, qual o motivo de
agredi-lo?'', questiona Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de
pós-graduação "As relações interpessoais na escola e a
construção da autonomia moral", da Universidade de Franca
(Unifran).
O professor é uma autoridade na sala de aula, mas essa autoridade só é legitimada com o reconhecimento dos alunos em uma relação de respeito mútua. ''O jovem está em processo de formação e o educador é o adulto do conflito e precisa reagir com dignidade'', afirma Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
O professor é uma autoridade na sala de aula, mas essa autoridade só é legitimada com o reconhecimento dos alunos em uma relação de respeito mútua. ''O jovem está em processo de formação e o educador é o adulto do conflito e precisa reagir com dignidade'', afirma Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
13.
O que fazer para evitar o bullying?
A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância
e Adolescência (Abrapia) sugere as seguintes atitudes para um
ambiente saudável na escola: Conversar com os alunos e escutar
atentamente reclamações ou sugestões; - Estimular os estudantes a
informar os casos; Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no
combate ao problema; Criar com os estudantes regras de disciplina
para a classe em coerência com o regimento escolar; Estimular
lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos;
Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a
dinâmica do bullying.
Todo ambiente escolar pode apresentar esse problema. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negando sua existência", diz o pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). O primeiro passo é admitir que a escola é um local passível de bullying. Deve-se também informar professores e alunos sobre o que é o problema e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a prática. "A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade", afirma o pediatra.
Todo ambiente escolar pode apresentar esse problema. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negando sua existência", diz o pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). O primeiro passo é admitir que a escola é um local passível de bullying. Deve-se também informar professores e alunos sobre o que é o problema e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a prática. "A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade", afirma o pediatra.
14.
Como agir com os alunos envolvidos em um caso de bullying?
O foco deve se voltar para a recuperação de valores essenciais,
como o respeito pelo que o alvo sentiu ao sofrer a violência. A
escola não pode legitimar a atuação do autor da agressão nem
humilhá-lo ou puni-lo com medidas não relacionadas ao mal causado,
como proibi-lo de frequentar o intervalo. Já o alvo precisa ter a
autoestima fortalecida e sentir que está em um lugar seguro para
falar sobre o ocorrido. "Às vezes, quando o aluno resolve
conversar, não recebe a atenção necessária, pois a escola não
acha o problema grave e deixa passar", alerta Aramis Lopes,
presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do
Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ainda é preciso
conscientizar o espectador do bullying, que endossa a ação do
autor. ''Trazer para a aula situações hipotéticas, como realizar
atividades com trocas de papéis, são ações que ajudam a
conscientizar toda a turma.
A exibição de filmes que retratam o bullying, como ''As melhores coisas do mundo'' (Brasil, 2010), da cineasta Laís Bodanzky, também ajudam no trabalho. A partir do momento em que a escola fala com quem assiste à violência, ele para de aplaudir e o autor perde sua fama'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação ''As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral'', da Universidade de Franca (Unifran).
A exibição de filmes que retratam o bullying, como ''As melhores coisas do mundo'' (Brasil, 2010), da cineasta Laís Bodanzky, também ajudam no trabalho. A partir do momento em que a escola fala com quem assiste à violência, ele para de aplaudir e o autor perde sua fama'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso de pós-graduação ''As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral'', da Universidade de Franca (Unifran).
15.
Como lidar com o bullying contra alunos com deficiência?
Conversar abertamente sobre a deficiência é uma ação que deve ser
cotidiana na escola. O bullying contra esse público costuma ser
estimulado pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam
elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito
trazido de casa. De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora
do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em
São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma
situação desconhecida. Cabe ao educador estabelecer limites para
essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por
meio da conscientização e do esclarecimento. Não se trata de
estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso
só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a
resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e
vitimar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. A
violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de
ser um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos
educadores oferecer um ambiente propício para que todos,
especialmente os que têm deficiência, se desenvolvam. Com respeito
e harmonia.
16.
Como deve ser uma conversa com os pais dos alunos envolvidos no
bullying?
É preciso mediar a conversa e evitar o tom de acusação de ambos os
lados. Esse tipo de abordagem não mostra como o outro se sente ao
sofrer bullying. Deve ser sinalizado aos pais que alguns comentários
simples, que julgam inofensivos e divertidos, são carregados de
ideias preconceituosas. ''O ideal é que a questão da reparação da
violência passe por um acordo conjunto entre os envolvidos, no qual
todos consigam enxergar em que ponto o alvo foi agredido para, assim,
restaurar a relação de respeito'' explica Telma Vinha, professora
do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Muitas vezes, a
escola trata de forma inadequada os casos relatados por pais e
alunos, responsabilizando a família pelo problema. É papel dos
educadores sempre dialogar com os pais sobre os conflitos - seja o
filho alvo ou autor do bullying, pois ambos precisam de ajuda e apoio
psicológico.
17.
O que fazer em casos extremos de bullying? A
primeira ação deve ser mostrar aos envolvidos que a escola não
tolera determinado tipo de conduta e por quê. Nesse encontro,
deve-se abordar a questão da tolerância ao diferente e do respeito
por todos, inclusive com os pais dos alunos envolvidos. Mais
agressões ou ações impulsivas entre os envolvidos podem ser
evitadas com espaços para diálogo. Uma conversa individual com cada
um funciona como um desabafo e é função do educador mostrar que
ninguém está desamparado. ''Os alunos e os pais têm a sensação
de impotência e a escola não pode deixá-los abandonados. É mais
fácil responsabilizar a família, mas isso não contribui para a
resolução de um conflito'', diz Telma Vinha, doutora em Psicologia
Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). A especialista também aponta que a
conversa em conjunto, com todos os envolvidos, não pode ser feita
em tom de acusação. ''Deve-se pensar em maneiras de mostrar como o
alvo do bullying se sente com a agressão e chegar a um acordo em
conjunto. E, depois de alguns dias, vale perguntar novamente como
está a relação entre os envolvidos'', explica Telma.
É também essencial que o trabalho de conscientização seja feito também com os espectadores do bullying, aqueles que endossam a agressão e os que a assistem passivamente. Sem que a plateia entenda quão nociva a violência pode ser, ela se repetirá em outras ocasiões.
É também essencial que o trabalho de conscientização seja feito também com os espectadores do bullying, aqueles que endossam a agressão e os que a assistem passivamente. Sem que a plateia entenda quão nociva a violência pode ser, ela se repetirá em outras ocasiões.
18.
Bullying na Educação Infantil. É possível?
Sim, se houver a intenção de ferir ou humilhar o colega repetidas
vezes. Entre as crianças menores, é comum que as brigas estejam
relacionadas às disputas de território, de posse ou de atenção -
o que não caracteriza o bullying. No entanto, por exemplo, se uma
criança apresentar alguma particularidade, como não conseguir
segurar o xixi, e os colegas a segregarem por isso ou darem apelidos
para ofendê-la constantemente, trata-se de um caso de bullying. "Há
estudos na Psicologia que afirmam que, por volta dos dois anos de
idade, há uma primeira tomada de consciência de 'quem eu sou',
separada de outros objetos, como a mãe. E perto dos 3 anos, as
crianças começam a se identificar como um indivíduo diferente do
outro, sendo possível que uma criança seja alvo ou vítima de
bullying. Essa conduta, porém, será mais frequentes num momento em
que houver uma maior relação entre pares, mais cotidiana e
estabelecida com os outros'', explica Adriana Ramos, pesquisadora da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do curso
de pós-graduação As relações interpessoais na escola e a
construção da autonomia moral", da Universidade de Franca
(Unifran).
19.
Quais são as especificidades para lidar com o bullying na Educação
Infantil? Para
evitar o bullying, é preciso que a escola valide os princípios de
respeito desde cedo. É comum que as crianças menores briguem com o
argumento de não gostar uns dos outros, mas o educador precisa
apontar que todos devem ser respeitados, independentemente de se dar
bem ou não com uma pessoa, para que essa ideia não persista durante
o desenvolvimento da criança. Quando o bullying ocorre entre os
pequenos, o educador deve ajudar o alvo da agressão a lidar com a
dor trazida pelo conflito. A indignação faz com que a criança
tenha alguma reação. ''Muitas vezes, o professor, em vez de mostrar
como resolver a briga com uma conversa, incentiva a paz sem o senso
de injustiça, pois o submisso não dá trabalho'', ressalta Telma
Vinha, doutora em Psicologia Educacional e professora da Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
20.
O que é bullying virtual ou cyberbullying? É
o bullying que ocorre em meios eletrônicos, com mensagens
difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails, sites, blogs
(os diários virtuais), redes sociais e celulares. É quase uma
extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que
as pessoas envolvidas não estão cara a cara. Dessa forma, o
anonimato pode aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e
os efeitos podem ser tão graves ou piores. "O autor, assim como
o alvo, tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores
esquecidos ou formar novos", explica Luciene Tognetta, doutora
em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp). Esse tormento que a
agressão pela internet faz com que a criança ou o adolescente
humilhado não se sinta mais seguro em lugar algum, em momento algum.
Marcelo Coutinho, especialista no tema e professor da Fundação
Getulio Vargas (FGV), diz que esses estudantes não percebem as
armadilhas dos relacionamentos digitais. "Para eles, é tudo
real, como se fosse do jeito tradicional, tanto para fazer amigos
como para comprar, aprender ou combinar um passeio."
21.
Como lidar com o cyberbullying? Mesmo
virtual, o cyberbulling precisa receber o mesmo cuidado preventivo do
bullying e a dimensão dos seus efeitos deve sempre ser abordada para
se evitar a agressão na internet. Trabalhar com a ideia de que nem
sempre se consegue tirar do ar aquilo que foi para a rede dá à
turma a noção de como as piadas ou as provocações não são
inofensivas. ''O que chamam de brincadeira pode destruir a vida do
outro. É também responsabilidade da escola abrir espaço para se
discutir o fenômeno'', afirma Telma Vinha, doutora em Psicologia
Educacional e professora da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Caso o bullying ocorra, é preciso
deixar evidente para crianças e adolescentes que eles podem confiar
nos adultos que os cercam para contar sobre os casos sem medo de
represálias, como a proibição de redes sociais ou celulares, uma
vez que terão a certeza de que vão encontrar ajuda. ''Mas, muitas
vezes, as crianças não recorrem aos adultos porque acham que o
problema só vai piorar com a intervenção punitiva'', explica a
especialista.
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